Dez meses depois das cirurgias de readequação de sexo das gêmeas Mayla e Sofia, de 19 anos, de Santa Catarina, a história delas serve de inspiração para outras meninas trans do país e expõe a fila de espera no Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo o pesquisador e professor do Núcleo de Estudos em Gênero e Saúde do departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Rodrigo Moretti, a espera é longa, com relatos de pessoas que aguardam por mais de cinco anos para iniciar o processo na rede pública.
"Cada um dos centros realiza no máximo duas cirurgias como essas por mês. Então, isso dá uma média de 10 procedimentos por mês e isso é muito aquém da necessidade. É uma situação precária", afirma Moretti
Procurado pelo g1, o Ministério da Saúde informou não ter os dados sobre quantas pessoas estão na fila de espera no Brasil para fazer uma cirurgia de readequação de sexo pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O ministério afirmou ainda que não tem uma média de quanto tempo o paciente espera na fila até conseguir fazer o procedimento cirúrgico.
Apenas cinco estados brasileiros têm hospitais habilitados pelo Ministério da Saúde para realizar o procedimento pelo SUS (Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Goiás), o que faz com que haja procura por clínicas particulares.
Só em Santa Catarina, por exemplo, entre 2015 e setembro de 2021, o SUS encaminhou 72 pessoas para fazer a cirurgia de readequação de sexo fora do estado, uma vez que não possui centro de referência conveniado para o procedimento.
No mesmo período, a clínica particular onde as gêmeas foram operadas, em Blumenau, no Vale do Itajaí, fez seis vezes mais cirurgias e alcançou a marca de 500 intervenções.
A exposição que o caso das gêmeas teve nacionalmente ajudou a dar visibilidade para um grupo que ainda sofre bastante preconceito no país. A estudante de arquivologia Lorena Nascimento Quintas, de 23 anos, foi uma das jovens que se inspiraram em Mayla e Sofia. Ela fez o procedimento de readequação em outubro na rede privada.
Fonte: g1-SC