O homem filmado sendo transportado para o Hospital Regional do Oeste (HRO) na carroceria de um carro em Chapecó, recebeu alta após ficar seis dias internado. Altair Gonçalves Pereira, de 41 anos, se recupera em casa e lembra dos momentos difíceis que passou na unidade de saúde.
— Se não fosse o oxigênio, eu não estava aqui para contar essa história. A sensação é muito pesada, eu vi muita perda, muita coisa pesada lá dentro [do hospital] — contou o cabeleireiro.
As imagens que mostram o transporte improvisado foram feitas no dia 22 de fevereiro. Ao lado de Altair na carroceria estavam um cilindro de oxigênio e sua esposa Lúcia Vieira. A atitude de desespero foi tomada após uma piora na condição de saúde do cabeleireiro. Informado que precisaria ser internado, ele não conseguiu transporte para ser levado ao hospital.
Segundo a família, Altair não conseguia respirar sem o cilindro de oxigênio e foi colocado na carroceria do automóvel, pois o equipamento não cabia dentro do veículo. O item foi comprado pelos familiares, que desembolsaram cerca de R$ 750.
Durante a internação, Altair ficou em um leito de enfermaria junto a outros doentes com a Covid-19. Ele não precisou ser encaminhado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Nos dias que passou na unidade, o cabeleireiro lembra ter visto pacientes morrendo e profissionais de saúde chorando.
Na noite em que Altair deixou o hospital, 136 pessoas da região esperavam por um leito. No estado, a fila de espera chegou a 220 pessoas, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES).
Filho também foi infectado
Pai de três filhos, ele conta que o momento de maior medo foi quando descobriu que o filho de 16 anos também estava com Covid-19. Com dificuldade em receber notícias sobre o adolescente, cresceu a angústia. Vendo pacientes de diferentes idades e sem doenças pré-existentes chegando no hospital, a preocupação cresceu.
— Dá todo o tipo de sentimento lá dentro. Eu fiquei dois dias tentando ligar, o médico, as enfermeiras e não conseguia [falar com o filho]. Na minha ideia, para mim, meu filho estava muito doente — lembra Altair.
Já em casa, ele se recupera junto do filho, que não precisou ser internado. Altair diz não estar 100% ainda e segue fazendo exercícios de para melhor a capacidade do pulmão.
— Eu sempre tive uma vontade extrema de viver, quem vive comigo sabe disso. O valor para a vida a gente sempre teve. Dessa doença, a gente sai com um trauma. Eu ainda não consigo falar 15% do que eu vi lá dentro, mas a gente vai se recuperando — afirma.
Até esta segunda-feira (1º) 24,6 mil pessoas foram diagnosticadas e 270 delas morreram por causa da Covid em Chapecó, desde o início da pandemia. Em todo estado foram 670 mil diagnosticados e 7,3 mil mortes.
Fonte: DC