A destruição de mais de 30 quilos de alimentos de 27 produtores que participaram do Primeiro Concurso Regional de Queijos Artesanais de Leite Cru, ocorrido na quarta-feira, no Centro Comunitário de Seara, gerou algumas reações tanto de produtores como de jurados, que não puderam nem degustar os produtos.
- Foi uma situação bizarra, cerca de 50% do peso da avaliação é pelo sabor e nós só pudemos avaliar pela aparência e pelo olfato. Depois os queijos foram recolhidos pela vigilância sanitária e destruídos. Foi constrangedor. Eles poderiam ter sido devolvidos para os produtores – disse um dos seis jurados, o pesquisador do Centro de Pesquisas em Agricultura Familiar da Epagri, Clóvis Dorigon.
De acordo com um dos organizadores do evento promovido pelo Fórum das Entidades da Agricultura Familiar, Valdir Magri, após uma denúncia de que haveriam queijos de produtores que não passaram por inspeção houve sugestão de cancelamento do evento pelo Ministério Público e Vigilância Sanitária. A justificativa é de que haveria risco de saúde para o degustadores. Só haveria liberação se fosse cumprida as condições mínimas exigidas pela legislação.
A solução foi fazer um acordo retirando o critério de sabor da avaliação. Magri disse desde 2011 vem sendo feito um trabalho para estimular a produção de queijos como uma renda extra para o produtor, mas situações como essa acabam causando desânimo.
- Houve uma revolta dos agricultores e consumidores, alguns choraram pois foram queijos maravilhosos apresentados no concurso e que não puderam ser consumidos – disse Magri.
O jurado Clóvis Dorigon disse que existe inclusive um projeto financiado pela Universidade de Berna e com a participação da Epagri para promoção de cursos e palestras com objetivo de incentivar a produção de queijos para o autoconsumo. E que a intenção é caminhar para que os produtores possam sair da informalidade. A expectativa é que com a Lei do Selo Arte, anunciada recentemente pelo Governo Federal, voltada para a produção de queijos artesanais, produzidos manualmente, seja facilitada a venda do queijo colonial.
O gestor estadual de inspeção de produtos de origem animal da Cidasc, Jader Nones, disse que a nova lei tem o intuito de agregar valor ao produtor feito de forma tradicional.
- Mas isso não isenta a obrigatoriedade de inspeção municipal, estadual ou federal. Um queijo sem inspeção é um queijo que o agricultor pode fazer para consumo próprio mas que não pode ser comercializado. Nós trabalhamos para garantir que seja vendido um produto com garantia para a saúde pública. Foi por falta dessa garantia de que o produto não poderia estar contaminado com brucelose ou tuberculose, por exemplo, que não foi liberado o consumo – explicou.
Nones disse que também precisa ser regulamentada a lei que autoriza a venda de queijo produzida com leite cru. A regulamentação deve estabelecer alguns critérios como a exigência de certificação das propriedades como livres de tuberculose e brucelose.
Fonte: NSC