Uma grande descoberta científica marca o Rio Grande do Sul na história da paleontologia. Isso porque foi encontrado, em Agudo, o dinossauro de pescoço longo mais antigo do mundo. Os fósseis do Macrocollum itaquii foram localizados em 2013, e a estimativa é de que o animal tenha vivido na região há 225 milhões de anos. Além da marca histórica, por se tratar da descoberta da nova espécie, esta é a primeira vez em que são encontrados esqueletos completos de dinossauros no Brasil: em Agudo, foram dois completos e um incompleto.
Conforme o paleontólogo do Centro de Apoio a Pesquisa Paleontológica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Rodrigo Temp Müller, desde 2013 são realizados trabalhos nos fósseis para separá-los completamente da rocha sedimentar na qual foram encontrados. “Como não tem como extrair DNA, porque este aspecto não é preservado pelo fóssil e eles têm milhões de anos, temos que trabalhar com a anatomia dos animais”, comentou Müller em entrevista à Rádio Gazeta.
A principal característica do esqueleto, observada pelos pesquisadores, é o pescoço longo, um dos mais importantes aspectos do grupo de dinossauros que inclui os gigantes pescoçudos (os saurópodes), como Brachiosaurus e Apatosaurus. Conforme o paleontólogo, estima-se que o Macrocollum itaquii tivesse cerca de 3,5 metros de comprimento e pesasse aproximadamente 100 quilos.
Também observada pelos pesquisadores, a dentição do animal demonstra que ele se alimentava de plantas, o que reforça a tese de que o pescoço longo servia para alcançar vegetação que outros animais não conseguiam. Essa habilidade provavelmente foi uma das principais responsáveis pelo sucesso do grupo dos sauropodomorfos (do qual o Macrocollum itaquii faz parte) durante a Era Mesozoica.
As evidências, neste sentido, são reforçadas pela nova descoberta. “Ele é o mais antigo. A gente tem outros, muito parecidos, mas com 10 milhões de anos a menos. Foi um dos primeiros com essa característica do pescoço longo”. Müller explica ainda que o animal não era tão grande quanto outros conhecidos justamente por ser um dos primeiros da linha dos pescoços grandes.
Acredita-se, também, que eles viviam em bandos, principalmente porque os três fósseis foram encontrados perto um do outro e com o mesmo nível de desenvolvimento. “Já que morreram juntos, deveriam viver juntos”, comentou o paleontólogo. Essa também é a mais antiga evidência desse tipo de comportamento em sauropodomorfos.
O nome “Macrocollum” significa pescoço longo, em referência a principal característica do animal. Já “itaquii” faz homenagem a José Jerundino Machado Itaqui, que foi um dos principais responsáveis pela criação do Centro de Apoio a Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia, onde os fósseis do dinossauro estão depositados, no município de São João do Polêsine. No local, eles podem ser visitados pela população.
O estudo dos pesquisadores brasileiros foi publicado no periódico britânico Biology Letters. Além de Müller, são responsáveis pelo estudo Max Cardoso Langer, professor da Universidade de São Paulo, e Sérgio Dias da Silva, professor da Universidade Federal de Santa Maria. O estudo pode ser encontrado no endereço eletrônico do periódico.
Após serem encontrados, os fósseis foram retirados do bloco de rochas onde foram localizados, trabalho que demorou pelo menos 20 dias. Conforme Müller, esses animais viviam na base dos morros, onde há rocha sedimentar. Após a morte dos dinossauros, enxurradas soterravam os ossos com lama. “Não temos o esqueleto, temos a forma, porque os minerais substituem o esqueleto”, explicou Müller.
Fonte: GAZ.com.br