A quarta-feira (21) já foi sem consultas para pacientes de algumas regiões mais distantes em Santa Catarina por causa da saída de médicos cubanos do Programa Mais Médicos. Em um posto de saúde de Florianópolis, as duas profissionais do país caribenho que atuavam no local já saíram. O Conselho Regional de Medicina do Estado de Santa Catarina (CRM-SC) acredita que há interesse de médicos brasileiros no preenchimento das vagas.
A saída do Mais Médicos foi anunciada no dia 14 de novembro pelo governo cubano, sem informar até quando os médicos atuariam no programa. A previsão da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) é de que todos voltem para Cuba até 12 de dezembro.
Sem médicos
No posto de saúde da Caieira da Barra do Sul, no Sul da Ilha, na capital, consultas já foram canceladas, como a de Clovis Gomes de Faria. Ele é diabético e precisa ir ao médico todo mês. Mas ficou sem o acompanhamento de novembro porque a consulta que estava marcada para a manhã desta quarta não aconteceu.
"Me ligaram ontem [terça] avisando que, com o término do programa [Mais Médicos], ela não iria mais atender", disse o paciente.
O mesmo aconteceu com outras 23 pessoas só nesse posto de saúde. As duas médicas cubanas que atuavam em Florianópolis saíram na terça.
Clovis teme que a situação do posto volte a ser como antes do Programa Mais Médicos, em que era comum o local ficar sem o profissional. "Nessa distância, você viu o trajeto, o trânsito, ninguém quer vir pra cá. Nós somos esquecidos", afirmou.
A coordenação do Programa Mais Médicos em Santa Catarina confirmou que os cubanos já começaram a deixar o trabalho mesmo antes do envio das passagens aéreas ao receberem uma nova orientação da Organização Pan-Americana da Saúde.
Preenchimento de vagas
As inscrições do Ministério da Saúde para contratar substitutos brasileiros ou estrangeiros com diplomas revalidados já estão abertas para inicío quase imediato, em 3 de dezembro.
O presidente do CRM-SC, Marcelo Neves Linhares, disse que já tem aparecido interessados e que acredita no preenchimento de todas as 258 vagas: "Existe um interesse muito grande, temos muito médicos se formando no Brasil. E claro que esse programa tem que ser aperfeiçoado. Em casos mais graves, mais complexos, que eles saibam e tenham aonde mandar os pacientes. E precisamos também de que, nos casos em que não haja interesse realmente dos médicos, que haja uma carreira de estado, assim como existe na área jurídica, que coloque os médicos nesses municípios menores".
Em Florianópolis, a prefeitura aposta em outra alternativa. Por nota, explicou que novos médicos serão contratados a partir de 11 de dezembro por um processo seletivo feito no domingo (25). Mas que, até lá, as unidades onde as profissionais cubanas trabalhavam terão médicos só alguns dias da semana.
Saída de Cuba do Mais Médicos
Ao comunicar que deixaria o Mais Médicos, o governo do país citou "referências diretas, depreciativas e ameaçadoras" feitas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) à presença dos médicos cubanos no Brasil.
Em agosto, ainda em campanha, Bolsonaro declarou que ele "expulsaria" os médicos cubanos do Brasil com base no exame de revalidação de diploma de médicos formados no exterior, o Revalida. A promessa também estava no plano de governo dele.
Cuba começou a enviar profissionais para atuar no Sistema Único de Saúde em 2013, quando o programa foi criado pela presidente Dilma Rousseff (PT) para atender regiões carentes sem cobertura médica.
G1 SC