Na última semana de campanha, os candidatos à Presidência alinham suas estratégias em busca da vitória. Líder nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL), cuja campanha está sendo acusada de abuso de poder econômico por compra ilegal de disparo de mensagens falsas por WhatsApp, não quer ir a debates ou agendas públicas para evitar desgaste. Já Fernando Haddad vai manter a tentativa de desconstruir seu adversário, aproveitando as denúncias recentes.
Bolsonaro
Bolsonaro admitiu na última semana, sem medo de se frustrar, que está com “a mão na faixa” presidencial. Na reta final da campanha, o entendimento da cúpula do partido é aplicar a lei do menor esforço para garantir a vitória nas urnas no próximo domingo: sem ir a debates na televisão, sem fazer agendas públicas e, portanto, sem se expor a possíveis escorregões às vésperas da votação final.
Mesmo liberado pelos médicos, Bolsonaro pretende seguir em ambientes que lhe são confortáveis. Ou seja, recebendo visitas em sua casa na Barra da Tijuca e falando aos eleitores na internet, ambiente onde o deputado federal do baixo clero se catapultou como uma nova força política.
Será nas redes sociais, aliás, que ele concentrará esforços para contra-atacar a ofensiva preparada pelo seu adversário, Fernando Haddad (PT), nos últimos dias.
“Já viu time que está ganhando se expor ao ataque?”, resumiu um interlocutor da campanha sobre a postura de Bolsonaro. Na televisão e no rádio, os programas vão mirar eleitores do Nordeste, região em que Bolsonaro perde para Haddad, e reforçar hits da campanha como o discurso antipetista, adotado ao longo de todo o segundo turno, e a defesa da família.
Inserções ao longo da programação das emissoras serão usadas para dar troco às recentes denúncias de uso irregular de mensagens de WhatsApp e divulgação de fake news. Entretanto, a avaliação dos integrantes da campanha é que, mesmo com a abertura de investigação, o impacto será mínimo para o eleitorado do capitão da reserva.
Integrantes da cúpula da campanha também foram orientados a serem apenas protocolares nas declarações à imprensa. Assim como foram desautorizados “a nomear ministros” para um novo governo Bolsonaro.
Apesar de a vitória ser dada como certa, Bolsonaro e aliados vão insistir publicamente para que se evite o “clima de já ganhou” e que as pesquisas de intenção de votos não sejam consideradas definitivas, apesar de mostrarem larga vantagem do candidato do PSL. A meta é que Bolsonaro, além de vencer, saia consagrado com uma votação acima de 60%.
Haddad
Com a missão de reverter a desvantagem estimada pelas pesquisas em quase 20 milhões de votos, a campanha de Fernando Haddad apostará as fichas, nesta última semana, na tentativa de desconstruir o adversário Jair Bolsonaro (PSL). Agora, com um novo elemento: as denúncias de transmissão em massa de mensagens de WhatsApp e as investigações anunciadas pelas autoridades. A ideia é somar críticas ao suposto uso indevido do aplicativo aos discursos dos últimos dias, como a apresentação de cenas de tortura e o risco de perda de direitos trabalhistas.
A esperança dos petistas é conseguir convencer parte dos eleitores que aderiram a Bolsonaro na semana final do primeiro turno. Será uma tarefa difícil, avaliam os próprios aliados. Um dos coordenadores da campanha de Haddad lembra que 80% do eleitorado do candidato do PSL são fiéis e não se sensibilizam com denúncia ou ataque. O caminho seria tentar fazer os outros 20% dos eleitores do seu adversário a mudar de posição.
A avaliação é que os ataques, muitas vezes, demoraram para serem absorvidos. As pesquisas qualitativas mostram, por exemplo, que as cenas de tortura exibidas na última semana têm impacto, apesar de a última pesquisa Datafolha não ter indicado variação de voto. Ontem, no entanto, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu retirar do ar as propagandas sobre tortura.
Os aliados do presidenciável do PT evitam jogar a toalha, mas um dos coordenadores reconhece que “não existe milagre” em eleição e que a situação é difícil.
O comando da candidatura também conta com “eventual deslize” de Bolsonaro para virar o jogo. Para chegar ao Planalto, Haddad precisa de uma virada inédita em disputas presidenciais, nunca registrada desde a redemocratização.
Na última sexta-feira, o candidato do PT também iniciou uma campanha para tentar forçar o rival a ir a debates. O petista cobra que, caso ele resista a comparecer, as emissoras lhe deem o espaço destinado ao programa para apresentar as suas propostas. O tema será explorado na propaganda de televisão, mas não vai dominar os programas porque não provoca impacto significativo para eleitores em função do estado de saúde de Bolsonaro – a justificativa usada para sua ausência nos programas. O presidenciável petista apostará em agendas de campanha no Sudeste e no Nordeste.
O Sul