O 12º Anuário Brasileiro de Segurança Pública revelou que em 2017 o Brasil teve 221.238 registros de violência doméstica, o que significa 606 casos por dia. São registros de lesão corporal dolosa enquadrados na Lei Maria da Penha. É a primeira vez que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública tabula esses dados. De acordo com o anuário, o País bateu novo recorde de assassinatos em 2017, com 63,8 mil mortes.
Os números de violência contra a mulher devem ser ainda maiores, já que Distrito Federal, Espírito Santo, Tocantins, Mato Grosso e Roraima não informaram os dados. As piores taxas estão em Santa Catarina, com 225,9 casos a cada 100 mil habitantes, seguida por Mato Grosso do Sul (207,6) e Rondônia (204,9).
“A gente não pode deixar de lado o debate sobre violência de gênero. A violência contra a mulher continua sendo um tema central pra gente debater inclusive desenvolvimento. Com esses índices não dá para pensar em ser um país desenvolvido de fato. É muito alto”, disse Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum.
O fórum também contabilizou o número de mulheres vítimas de homicídio no ano passado: 4.539 (aumento de 6,1% em relação a 2016). Desse total, 1.133 foram vítimas de feminicídio. “A violência contra a mulher no Brasil é de algum modo aceita, já que ela é um elemento da história”, analisa Renato Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O especialista destaca a necessidade de treinamento dos agentes de segurança pública. “Da mesma forma que um policial é treinado para usar uma arma de fogo na academia, nós do fórum estamos incentivando a adesão de protocolos para que esse policial saiba acolher uma mulher vítima de violência, esteja ele numa delegacia de interior ou na capital”.
Estupros
O número de estupros cresceu no País no período. Foram 60.018 casos registrados no ano passado, um aumento de 8,4% em relação a 2016. Segundo Samira, esse é o crime mais subnotificado dos dados. “A mulher tem vergonha, a mulher tem medo. É muito pior do que parece”.
Violência policial
A letalidade das polícias nos Estados brasileiros aumentou 20% em relação a 2016: 5.144 pessoas foram mortas em decorrência de intervenções de policiais civis e militares. Isso representa 14 mortos por policiais por dia.
“O modelo com o qual o País está optando por enfrentar o problema da segurança pública é um modelo que tem feito várias vítimas e quando você opta pelo confronto você gera resultados que são devastadores e a começar também pelo que é a soma de todos os nossos erros que é o sistema prisional”, diz Renato.
O número de policiais mortos diminuiu 4,9% em relação a 2016: 367 policiais civis e militares foram vítimas de homicídio em 2017 contra 386 em 2016.
Latrocínio
Os casos de latrocínio diminuíram 8,4%, indo de 2.527 para 2.333 casos em todo o País.
Armas
Foram apreendidas 119.484 armas de fogo em 2017, crescimento de 0,2% em relação ao ano anterior. Destas, 94,9% não foram cadastradas no sistema da Polícia Federal.
“Uma informação muito importante e inédita que vai fazer muito sentido para a gente entender o que está acontecendo no Brasil com esse crescimento [da violência]”, avaliou Renato.
Segundo ele, isso diz muito sobre o debate de armas no País, já que não é dificilmente é possível rastrear o que aconteceu com esses 94,9% de armas apreendidas e não registradas.
O SUL