De janeiro a abril deste ano, ao menos 9 mulheres foram vítimas de estupro por dia em Santa Catarina, de acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública, o que totaliza 1.116 estupros no período. Nesses meses, foram registrados ainda 6,9 mil casos de lesão corporal contra mulheres, 65% deles ocorridos dentro de casa.
"Na maior parte dos casos de estupro, o autor é alguém próximo à vítima - pai, padrasto, tio, irmão. O estupro perpassa também o aspecto cultural. Eu já interroguei pais, padrastos que disseram que era um direito dele que a primeira relação sexual da filha ou enteada fosse com ele", contou a coordenadora das Delegacias de Atendimento à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (Dpcami), Patrícia Zimmermann D'Ávila.
Para ela, o crime de estupro engloba várias manifestações da violência sexual. "O estupro consumado compreende desde a conjunção carnal, até quaisquer outras práticas de atos libidinosos ou ato que satisfaça a lascívia. Então... se a mão que alguém passa na mulher, a boca que encosta nela é estupro? Só o inquérito policial poderá dizer", explicou.
Conforme a delegada, a Polícia Civil trabalha para tornar a rede de atendimento às vítimas mais humanizada.
"Nossa preocupação é de que essa mulher receba atendimento médico imediato, para que ela receba medicação de emergência o quanto antes, para combater doenças sexualmente transmissíveis e até uma gravidez indesejada. Nossa orientação é de que ela seja primeiro levada ao hospital e o plantonista da polícia faça o boletim de ocorrência no local. Estamos trabalhando dia a dia para tornar esse atendimento mais humanizado", falou.
Assassinatos
No primeiro trimestre, segundo a Secretaria de Segurança, foram registrados oito casos de feminicídio, crime cometido contra a mulher em situação de violência doméstica, familiar ou de discriminação à condição de gênero.
Na metade dos casos, as vítimas tinham até 30 anos e tinham filhos com o suspeito do crime. Apenas três mulheres registraram boletim de ocorrência contra o criminoso, conforme o estado. Quase todos os casos, segundo o governo , foram registrados dentro de casa.
Patrícia D'Àvila destacou que para enfrentar o problema, em alguns municípios estão sendo oferecidos tratamento psicológico ao agressor. As mulheres que são vítimas de agressão são inseridas em grupos de apoio para entenderem que precisam agir para mudar essa realidade.
Conforme a delegada, muitas vítimas se sentem intimidadas e retiram as denúncias ou mudam depoimentos em audiências.
Para denunciar a violência contra mulher, existe desde 2005 o Disque 180. Nesse canal, as mulheres são orientadas sobre os serviços disponíveis para o enfrentamento do problema.
O serviço é gratuito e anônimo. As vítimas são atendidas por mulheres que são treinadas para dar o encaminhamento necessário para cada caso.