Um clima de celebração à ex-presidente Dilma Rousseff tomou a noite da última sexta-feira, dia 1º, no salão Manacá do Complexo de Eventos Tabajaraem em Chapecó. A petista foi recebida como uma estrela em um auditório lotado por cerca de 600 pessoas. Ela ministrou uma aula aberta no curso de pós-graduação "A Esquerda no Século XXI", que a cada duas semanas traz professores convidados a Chapecó.
Dilma ganhou flores, poemas e subiu ao palco ouvindo os versos da canção Ordem e Progresso, de Beth Carvalho. Visivelmente comovida e ainda rouca pela participação em eventos no Rio de Janeiro e Natal nos dias anteriores, a ex-presidente fez uma avaliação do quadro político que levou a sua deposição — que qualificou como golpe parlamentar — em que negou erros na condução política e econômica do país.
Na visão da petista, o impeachment teve como um de seus eixos impedir que as investigações da Operação Lava-Jato alcançassem políticos do PMDB e do PSDB, mas que o objetivo principal foi aplicar o programa de governo neoliberal derrotado nas eleições de Lula em 2002 e 2006 e dela própria em 2010 e 2014.
De acordo com Dilma, um projeto que pregue contenção de gastos públicos, privatizações e reformas não venceria as eleições. "Sempre que há democracia, as forças progressistas deste país avançam. Sempre que há democracia, o povo brasileiro expõe a única força que tem, que é o voto", afirmou.
A predominância de políticos e militantes petistas foi evidente. Estavam lá os deputados estaduais Luciane Carminatti, Dirceu Dresch e Padre Pedro Baldissera, além de prefeitos e vereadores petistas da região Oeste.
Ainda na tarde de sexta, cerca de 20 pessoas esboçaram um protesto no Centro contra a presença de Dilma. Nada que preocupasse para quem queria ouvir a petista. A procura pelos ingressos para a palestra levou a organização a tentar um lugar maior, mas Dilma acabou enfrentando a concorrência de outro nome ligado à esquerda: Leonardo Boff tinha palestra marcada para o mesmo dia no Centro de Eventos Plinio Arlindo de Nês, localizado no Centro e com capacidade para até duas mil pessoas.
No sábado, em um hotel da cidade, estava prevista a aula de Dilma para os alunos da pós-graduação — a maior parte deles vinculado a movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda da região Oeste do estado e do Rio Grande do Sul. A essa parte foi negado o acesso à imprensa. A expectativa era de aprofundamento teórico das questões abordadas na véspera e foco no tema "Os partidos políticos e a esquerda brasileira".
"Ela apresentou toda a ementa exigida pelo curso, com aprofundamento teórico. A aula pública traz um apanhado geral do tema", explica Ana Munarini, presidente do Instituto Dom José Gomes.
As aulas continuam até maio do ano que vem. O próximo encontro da turma vai ter aulas sobre metodologia científica, sem aula aberta de alguma personalidade da esquerda. Dias 29 e 30 de agosto será a vez de Olívio Dutra dar o seu recado. Embora não conste na programação anunciada até agora, ainda há quem sonhe com a presença do ex-presidente uruguaio José Mujica.